Aneeliese
ainda fitava Elliot com uma mescla de estupefação e incredulidade, mas, alguns
segundos depois, o mesmo se virou para os destroços da janela destruída durante
a batalha, e seu semblante se mostrou aflito.
–
Thor está a caminho, mas não sei se irá suportar a viagem. Traga a cama até aqui, por
favor.
–
Ele indicou um lugar às costas de si mesmo com o polegar acima do ombro, e, com
o auxílio de um Feitiço de Levitação, levou-a ao local indicado. Thor apareceu
deitado e desesperadamente ferido, semi-inconsciente na cama. Sua varinha lhe
escapou da mão e caiu ao chão, soltando faíscas e queimando o soalho do quarto,
sussurrou um débil “Aneeliese” antes de desfalecer. Horrorizada, Aneeliese se
sentou ao lado dele, acariciando seu rosto.
–
Ele vai ficar bem, não vai? – Ela ergueu os olhos para o novo aliado, tentando
compreender a realidade de Thor, um homem que ela jamais imaginaria ser ferido,
quase morto em sua cama. Lhe comoveu, de fato, a escolha de querer chegar perto
dela mais uma vez, mas será que seria para uma despedida?. Elliot, por sua vez,
permaneceu calado por um instante antes de se virar para o amigo e a mulher que
acabara de ajudar e, inesperadamente, sorriu.
– Thor é mais forte que imaginamos. Se ele
conseguiu viajar vários países nesse estado, poderá se recuperar. Mas terei de
me ausentar por algumas horas. Preciso buscar os ingredientes para a poção que
ele necessita para ficar bem. Até lá, use isto – disse ele atirando um livro de
bolso encapado manualmente em couro de dragão com o título gravado à fogo
“Métodos de Cura por Magia – Um Guia Clássico – De Helga Hufflepuff.”
Aneeliese
folheou febrilmente o livro até encontrar um capítulo intitulado “Feitiços e
Rituais de cura imediata”. Nele encontrou um feitiço que, em seu pensamento,
ajudaria Thor a ficar melhor, mas ela nunca ouvira falar no mesmo. Ficou sem
saber o que fazer, apenas folheando o livro, até encontrar um feitiço que lhe
parecera útil, pois, segundo o livro, tinha a finalidade de recobrar a
consciência da pessoa atingida.
–
Rennervate! – ordenou, sem sucesso.
Elliot
reapareceu alguns minutos depois com alguns frascos com poções e pós de
variadas cores que colocou no chão ao mesmo tempo em que conjurava um caldeirão
à frente da cama onde repousava Thor e onde Aneeliese ainda tentava sem sucesso
utilizar o Feitiço de Revitalização no mesmo. Começara a se desesperar por não
conseguir faze-lo voltar a si. Algumas tentativas mais tarde, porém, Thor
reagiu, reabrindo os olhos e fazendo uma débil tentativa de se levantar, ao que
fora impedido prontamente por Aneeliese. LeFay acendeu o fogo embaixo do
caldeirão e pôs-se a trabalhar, misturando quantidades variadas dos conteúdos
dos frascos no caldeirão que logo começara a borbulhar.
–
Como foi que você escapou? Por que veio até aqui? – Perguntou Aneeliese, e,
baixando a voz, acrescentou – E quem é esse seu amigo?
Elliot
ouvira, mas preferiu fingir o contrário, se concentrando na poção, e Thor olhos
para ambos parecendo aliviado, mas quando falou sua voz era fraca, o que
preocupou Aneeliese.
–
Topei com nosso caro amigo Gryffindor e acabamos tendo um desencontro. Mas
percebi que minha Horcrux perdeu o duelo. Senti minha energia aumentar quando
Gregory destruiu o corpo que fiz. – Falava mais para Elliot do que para
Aneeliese, e este trocou com ele um olhar de estranha compreensão, que deixou a
jovem aturdida, embora se esforçasse para não demonstrar. Sentia-se
estranhamente deslocada entre os dois. LeFay, voltando sua atenção para a poção
depois desse momento, comentou:
–
Eu lhe avisei que os seus professores um dia lhe dariam dor de cabeça...
Gregory Gamp sempre foi muito devoto à Igreja, e ele sempre desprezou sua gana
de poder, embora ele mesmo também a tenha. Acho, e nunca estive tão esperançoso
de estar enganado, que ele é mais um aliado da Ordem. – Aneeliese pareceu
chocada com o que LeFay e Thor disseram. Ela sempre pensara que os Gryffindor e
os Gamp fossem devotos das tradições bruxas de seus antepassados.
Principalmente o jovem Gregory, seu ex-colega, por quem nutria grande apreço.
Mas, depois de um tempo, ela se desfez da distração em que caíra ao ouvir mais
uma vez a voz de Thor, animando-se por senti-la um pouco mais forte.
–
Gamp assumirá o controle de Hogwarts. Ele me derrotou... Agora toda a Europa
corre sério risco. Ela estará totalmente à mercê da Ordem dos Templários, se
não agirmos rápido. – Ele tentou se levantar mais uma vez, mas essa nova
tentativa o deixara pálido como os lençóis da cama em que convalescia. Elliot
logo o forçou contra a cama e colocou em sua mão um cálice coma poção, que
estava dourada e densa, semelhante à Felix Felicis, só que diferente em sua
essência. Thor virou-a de um gole, e um afogueado escarlate tomou conta de seu
rosto outrora lívido. Sentou-se imediatamente, olhando para o próprio corpo,
agora ileso, e sorriu para os amigos que retribuíram brevemente.
–
O que faremos Thor? Hogwarts é a única escola bruxa da Europa, e tem bruxos
extraordinários trabalhando lá! Se for mesmo verdade que a escola está nas mãos
da Ordem, quem somos nós para resistir a tal poder? – Tornou Aneeliese, quase
desesperada.
–
Somos os mais poderosos bruxos conhecidos na Europa, e não estamos sozinhos.
Quem disse que só existem bruxos extraordinários na Inglaterra? – qualquer
sinal da aparatação de Henry fora abafado pela vez de Aneeliese. Ela se virou
para o recém-chegado e se surpreendeu, pois vira que ele não veio sozinho.
Uma
mulher alta e curvilínea, que usava vestes longas de um preto tão denso que o
céu noturno e estrelado às suas costas parecia ser cinza-chumbo. Sua capa, com
um capuz que cobria seu rosto, era tão negra quanto as vestes dela. Um generoso
decote mostrava seu busto avantajado e tão branco que causava um contraste
praticamente impossível de não ser percebido. Ela se adiantou e tirou o capuz,
mostrando seu belo rosto e seus cabelos, longos e lisos, vermelho-sangue,
refulgentes à luz dos lampiões conjurados, acendidos e suspensos no ar por
Henry logo depois de chegar.
–
Sou Khristinne. Khristinne Middelhauve. Vim da Holanda à convite de Henry, meu
amigo de longa data... – Sua voz era suave e melodiosa, porém levemente intimidante
e estranhamente familiar, como seu rosto de olhos azuis e intensos e traços
finos e delicados, mas, ainda assim, marcantes. Aneeliese e Thor não puderam
deixar de notar sua nítida semelhança com uma das fundadoras de Hogwarts,
Rovena Ravenclaw. Como se estivesse lendo a mente de ambos, Khristinne sorriu –
Sim, sou descendente da grande Rovena. Neta, para ser mais exata. Nasci na
Holanda por ser filha de um filho bastardo e abortado da minha querida avó. Mas
ela me conhecia e gostava de mim... – acrescentou, ao notar as expressões dos
que estavam presentes.
–
Está bem, está bem! – exclamou Henry, interrompendo a história de Middelhauve.
– Mas, se está pensando mesmo em fazer o que acho que está pensando, Thor, acho
melhor começarmos agora.
Finalmente
Thor conseguiu se levantar, andando de um lado para o outro por alguns minutos,
em silêncio, e depois se dirigiu aos quatro outros ocupantes do quarto, que
esperavam ansiosos, olhando-o.
– Vamos ter que esperar o fim deste ano para
recrutar tanto alguns professores de Hogwarts quanto para podermos trazer os
alunos recém-formados para nosso lado, para que possam receber o devido
treinamento que lhes é necessário, pois queremos que eles estejam aptos para
lecionar nas novas escolas... As escolas de Beauxbatons e Durmstrang. –
terminou de falar lançando um olhar indagativo a ambos.
Aneeliese
e Henry se entreolharam brevemente, pasmos, e depôs se voltaram para Thor,
assentindo solenemente.
“Ótimo.
Elliot, Khristinne, espero que vocês auxiliem ambos a construir os castelos e a
protegê-los de pretensos inimigos e invasores, certo? – ambos fizeram que sim
com a cabeça. Sem conseguir suportar a curiosidade, Aneeliese se virara
novamente para Thor.
–
E aonde VOCÊ vai? – perguntou, quase aflita com a resposta
que esperava. E ele a respondeu quase imediatamente.
–
Voltarei à Londres escondido. Sei que eles me esperam lá – acrescentou depressa
para conter o protesto de Aneeliese – Mas tenho mais aliados lá do que eles
pensam que tenho. A minha sorte é que tenho bons amigos. Agora, vamos ao que
interessa. Henry e Khristinne, ergam o castelo na ilha-cemitério de Volkando,
pois lá é um lugar protegido de trouxas por natureza, e teremos de fazer ele
ser protegido de bruxos também. Aneeliese e Elliot – continuou, se virando para
os dois. – Vão para o sul da França. Lá é praticamente inabitado. Será fácil
para construir um palácio lá.protejam-no com tudo o que forem capazes,
principalmente você, Aneeliese. Se tudo der certo, creio que estaremos
novamente juntos dentro de um ano. Até lá, manteremos contato via corvos, pois
são menos propensos a ser capturados, ouso dizer que sequer tocarão em um
corvo. Enfim, boa sorte a todos e...
– Espere aí, Thor! – exclamou Aneeliese – Porque
este castelo não pode ser usado como escola?
–
Porque a Ordem já conhece sua localização, e mesmo que o ocultássemos, os
bruxos do lado deles desfariam os feitiços e avançariam. Enfim, boa sorte. –
dizendo isso, pulou pelo buraco que antes era a janela do quarto, e que fora
protegida com uma magia de sua própria autoria, e, no ar, desaparatou. Em
seguida, ainda chocados com o que Thor dissera quando ainda presente, Henry e
Khristinne também desaparataram. Aneeliese, ainda irritada com o fato de não
poder continuar no castelo de seus pais, viu Elliot, sorrindo, estender-lhe a
mão, que a segurou segundos antes de desaparatarem.
Há
muitos quilômetros dali, duas filas de pessoas, como uma procissão se formava
na entrada de Hogsmeade e se estendiam até os portões que ladeavam Hogwarts. No
centro da multidão alvirrubra segurando archotes e iluminando a trilha,
caminhava imperiosamente o Alto Pontífice da Ordem dos Templários, e a cada
passo deles, as pessoas à sua volta se ajoelhavam, com as cabeças curvadas, num
sinal de extremo respeito. Ao chegarem aos portões de Hogwarts, eles se
abriram, embora não houvesse ninguém por perto para abri-la e sequer fora
tocada. Todos que se postaram de joelhos quando o Alto Pontífice parou, ao
verem o portão abrir-se sozinho, exclamaram assustados e deixaram rapidamente o
local. Os sete membros do Alto pontífice, porém, não pareciam sequer remotamente
surpresos. Entraram noite adentro pelos campos de Hogwarts, indo em direção ao
castelo, seguindo a trilha deixada pelas carruagens. À porta do Saguão de
Entrada, o Prof. Gamp os aguardava, e, ao chegarem, o mesmo os cumprimentou com
uma profunda e solene reverência, retirando seu habitual chapéu cônico preto.
Ao mesmo tempo, as portas do castelo se abriam às suas costas.
Todos
entraram no Saguão e depois no Salão Principal, e dali para uma sala aos fundos
do Salão, atrás da mesa dos professores. Gamp os deixou lá por alguns momentos
para chamar os demais professores recém-nomeados como Diretores das Casas
Sonserina e Corvinal, assim como o próprio Gamp fora nomeado Diretor.
Os
membros do Alto pontífice usavam longas vestes negras com a cruz de malta, símbolo
da Ordem, bordada em ouro tanto nas vestes quanto nas capas, igualmente negras
e com capuz, ao que todos ainda usavam-nos ocultando os rostos. Do lado de fora
dos domínios do castelo, a procissão fazia o caminho reverso, voltando à
Hogsmeade para aguardar o retorno do grupo mais poderoso da Igreja à época,
apagando gradativamente os archotes e tochas quando chegavam ao povoado
iluminado, indo para as estalagens e pensões que existiam.
Fazia
um frio de ventos cortantes na noite sem nuvens, estrelada e com a lua cheia
aparente e inexplicavelmente mais iluminada e próxima da Terra do que o
habitual. Dentro do castelo, porém, estava calidamente confortável,
principalmente a sala aonde o Alto Pontífice e os Diretores iriam se reunir.
Ela era suntuosamente decorada, pois fora decorada pelo próprio Salazar
Slytherin, um dos mais ricos bruxos de sua época. A sala era espaçosa e com o
teto alto e abobadado, com pinturas medievais que eram capazes de se mover,
assim como os quadros pendurados por toda a escola. Haviam 12 cadeiras, 5 das
quais ornamentadas com as cores das Casas (Uma verde e prata, da Sonserina; uma
vermelha e dourada, da Grifinória; uma azul e bronze, de Corvinal ; uma preta e
amarela, da Lufa-Lufa e uma belamente ornamentada com as 8 cores, do Diretor.),
e também mais 6 cadeiras posicionadas para os convidados de honra, todas feitas
de prata e com os acolchoamentos em veludo verde, extremamente confortáveis e
um trono dourado com acolchoamentos azuis para o Papa, Sumo Pontífice, se
acomodar devidamente. Essa sala, originalmente, era exclusiva dos Criadores de
Hogwarts, mas, com o tempo e a descoberta do feitiço de quebra do lacre mágico
da porta, fora utilizado como a Sala dos Diretores. Todas as cadeiras foram
organizadas numa enorme mesa redonda, sendo que a ordem era a seguinte: o
Diretor ficaria de frente para o Papa, que estaria de costas para a lareira. A
partir da sua direita, ficariam 3 de seus conselheiros e os Diretores de
Sonserina e Corvinal. À direita de Gamp ficariam os Diretores de Grifinória e
Lufa-Lufa e os outros 3 Conselheiros do Alto pontífice.
Quando
todos chegaram à sala, os membros do Alto Pontífice se sentaram primeiro e
despiram as capas, colocando-as nos apoios para as costas das cadeiras. Haviam
4 homens e 3 mulheres, incluindo o Papa. O Sumo Pontífice era um homem alto,
com cabelos e barbas extremamente brancos, mas ralos. Tinha os olhos verdes e
uma expressão ao mesmo tempo dura e bondosa, embora fosse apenas uma expressão.
Seu coração era tomado por um ódio frio por ter sido um bruxo abortado. Mas a
ocasião pediria medidas drásticas, e nada melhor do que se aliar com o único
lugar que pode formar um exército de bruxos para seus propósitos. À sua direita
imediata, encontrava-se um homem muito semelhante à ele, a quem o Papa Lúcio
III chamava de sobrinho, era um competente bruxo. Seu nome era Eriel, e era o
1º e mais jovem do Conselho. À esquerda do Sumo Pontífice se encontrava uma
mulher quase de sua idade, de nome Lavertè, os cabelos brancos arrumados em um
apertado coque e seu rosto vazio de emoção. Seus olhos acinzentados pareciam
pedras de gelo. Apesar das rugas em seu rosto, era uma bela mulher, embora sua
aparência lhe desse uma aura intimidante. Ao seu lado, um homem de meia idade,
muito musculoso, porém um pouco mais baixo que ela, chamado Savior. Seus olhos
negros e brilhantes e sua barba castanha lhe denunciavam a natalidade bárbara,
mas era de uma inteligência ímpar, sendo essencial na escolha da aliança com
Hogwarts. À sua frente, encontrava-se uma mulher simplesmente deslumbrante. Seu
rosto delicado e muito branco contrastava drasticamente com suas vestes negras,
seus olhos de um azul bem claro, como o das águas cristalinas dos mares
tropicais, eram cheios de vida e brilho, assim como sua pele sedosa e seus
cabelos, de um vermelho-sangue flamejante que lhe chegavam à cintura fina. Sua
altura era equiparável à de Lavertè, embora dois dedos mais baixa, talvez. Seus
traços corporais delicados e curvilíneos chamavam a atenção de todos que
colocavam seus olhos nela. Gregory Gamp mal respirava, tal exuberância e beleza
da jovem. A Diretora de Corvinal, Herin, praticamente bufava de ódio ao ver a
cena, pois era secretamente – mas nem tanto – apaixonada pelo agora Diretor.
Também era bela, embora sua beleza fosse empanada pela da bela jovem cujo nome
era Stelle Marie. Ao lado dela e de Savior, estavam irmãos gêmeos, ambos negros
e altos, nascidos no Egito, de nome Ahkel e Hansin, eram os únicos negros de
toda a Hierarquia da Igreja. Os Diretores das Casas, Korklian, da grifinória,
um homem muito magro e de aparência ágil e ardilosa, também era professor de
Vôo. Queria ser diretor da Sonserina, mas o cargo foi ocupado pela professora
de Defesa Contra as Artes das Trevas, Anne Lívina, que era conhecida por ter
combatido ao lado de alguns dos descendentes dos Fundadores. Tinha uma
aparência mais bruta por ser filha de guerreiros nórdicos. O Diretor da
Lufa-Lufa era o Padre Arkinus Nirckumen, um homem diferente de todos lá
presentes, por ser o único animago, e se transformava em uma coruja. Usava
óculos redondos e tinha um temperamento calmo. Quando todos se sentaram, Gamp
olhou para a janela, anunciando:
–
Peço à vocês silêncio para podermos começar o motivo desta reunião.